<font color=0094E0>Determinação à prova de muros e grades</font>
Na aldeia de Baleizão, perto de Beja, nasceu em 18 de Dezembro de 1907, no seio de uma família de camponeses pobres, Francisco Miguel Duarte. Aos sete anos, acompanha os pais, que encontraram trabalho numa herdade em Vale de Zorras. O monte encontrava-se a cinco quilómetros de Serpa, o que dificultou a ida à escola.
Como muitas crianças do seu tempo, Francisco Miguel não teve infância. Após vários anos a ajudar os pais nos trabalhos do campo, tornou-se, aos treze anos, aprendiz de sapateiro em Serpa. A testemunhar a sua crescente consciência de classe, conquistada pela sua própria experiência de vida, está o papel que desempenhou para a reanimação de duas associações profissionais existentes na vila – dos sapateiros e dos trabalhadores rurais.
Aos poucos, o jovem sapateiro vai ganhando protagonismo junto dos trabalhadores de Serpa. Numa assembleia da associação dos trabalhadores rurais, em 1930, faz a sua primeira intervenção pública. No ano seguinte, junto aos Paços do Concelho de Serpa, cerca de 400 trabalhadores rurais manifestavam-se por pão e trabalho. À resposta de um funcionário que «trabalho não há para ninguém», Francisco Miguel subiu para cima de um banco da praça e falou sobre a situação dos camponeses e da ausência de soluções por parte das autoridades. A GNR tentou prendê-lo mas, protegido pela multidão, conseguiu escapar.
Conhecido da polícia, não lhe restava outra opção senão fugir. Ficar significaria a prisão. É em Espanha que encontra refúgio e trabalho como sapateiro em Rosal de la Frontera. Ali conheceu exilados portugueses e oposicionistas espanhóis, sobretudo ligados ao Partido Comunista de Espanha, fundamentais para a sua formação política e ideológica.
Passado menos de um ano, regressa a Portugal, fixando-se em Lisboa, onde arranja emprego. Pouco depois, fez-se sócio do Sindicato dos Sapateiros.
A entrada para o Partido e as primeiras prisões
O ano de 1932 marca a entrada de Francisco Miguel para o Partido. Ao integrar o Comité Local de Lisboa, travou conhecimento com diversos militantes e dirigentes comunistas. Um, particularmente, marca-o profundamente: Manuel Rodrigues da Silva. Foi em Lisboa que começou a controlar algumas células, com reuniões realizadas, como era frequente na época, em plena rua – em locais pouco frequentados e zonas periféricas.
No início de 1935, foi enviado pelo Partido para Moscovo, com o objectivo de estudar na Escola Leninista. Ali conheceu dirigentes do PCP como Bento Gonçalves, Álvaro Cunhal e José Gregório, com quem aproveitou para enriquecer a sua formação teórica.
Dois anos depois, regressou a Portugal para mergulhar na clandestinidade. Responsável pelo Comité Local de Lisboa, acabaria por ser preso no ano seguinte. Barbaramente espancado, não falou. Depois da primeira prisão, a primeira fuga. Em 19 de Março de1939, fugiu do forte de Caxias.
De volta ao trabalho do Partido, foi chamado ao Comité Central e, pouco depois, ao Secretariado. É-lhe confiada a tarefa de reactivar a publicação do Avante!, há muito sem sair. Mas a casa onde se encontrava a tipografia, em Algés, foi assaltada e Francisco Miguel regressou à prisão. Julgado e condenado, foi deportado para o Tarrafal em Junho de 1940. Seis anos depois, regressou ao País ao abrigo de uma amnistia decretada em 1945. Seria a única vez que lhe abriram as portas do cárcere…
Um infatigável combatente
Após o IV Congresso do Partido, realizado em Agosto de 1945, em que foi eleito para o Comité Central, Francisco Miguel, que havia retomado a sua profissão, regressou à clandestinidade. Juntamente com Pires Jorge, foi incumbido da tarefa de dirigir a actividade do Partido no Alentejo.
Mas seria novamente detido, em Évora, quando procedia à transferência para o Algarve da casa de um funcionário do Partido que havia sido preso. Encarcerado no Aljube, foi sujeito, durante quatro semanas, em três períodos intercalados, à tortura da estátua. Julgado e condenado naquele que ficou conhecido como o «processo dos 108», foi o único preso a quem não foi permitida fiança.
Transferido para Peniche, só pensava em escapar. A 3 de Novembro de 1950, tentou evadir-se juntamente com Jaime Serra. Mas acaba por ter menos sorte que o camarada e foi novamente capturado. O Tarrafal seria o destino seguinte.
Permaneceu no Campo da Morte Lenta entre 1951 e 1954. Decidido o encerramento do campo, por pressões internacionais, os presos foram todos transferidos para prisões no continente. Todos menos Francisco Miguel, que passou um mês sozinho no campo e com a saúde muito debilitada.
O facto de a pena a que havia sido condenado ter já expirado, veio do Tarrafal para Caxias e, depois, para o Porto. Nos dois anos que ali passou, mais de oito meses passou-os na mais rigorosa incomunicabilidade.
Em Agosto de 1958, foi transferido para Peniche. Daqui evadiu-se a 3 de Janeiro de 1960, juntamente com Álvaro Cunhal e outros camaradas. Mas a sua permanência em liberdade seria de curta duração. Em Julho foi novamente preso, desta vez em Elvas, quando se preparava para passar a fronteira.
A última fuga e a luta que continua
Detido em Caxias, voltou a escapar, em Dezembro de 1961, com sete outros militantes comunistas, na célebre fuga no carro blindado de Salazar. Reintegrado na actividade do Partido, esteve presente no VI Congresso do PCP, em 1965, onde foi mais uma vez eleito para o Comité Central.
No início dos anos 70, integrou a Acção Revolucionária Armada (ARA), tendo participado no planeamento e execução de operações de sabotagem do aparelho militar colonial e de propaganda do fascismo.
Com o 25 de Abril, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte, em 1975, e à Assembleia da República, entre 1976 e 1985. Morreu a 21 de Maio de 1988. Tinha 81 anos, 21 dos quais passados na prisão.
Como muitas crianças do seu tempo, Francisco Miguel não teve infância. Após vários anos a ajudar os pais nos trabalhos do campo, tornou-se, aos treze anos, aprendiz de sapateiro em Serpa. A testemunhar a sua crescente consciência de classe, conquistada pela sua própria experiência de vida, está o papel que desempenhou para a reanimação de duas associações profissionais existentes na vila – dos sapateiros e dos trabalhadores rurais.
Aos poucos, o jovem sapateiro vai ganhando protagonismo junto dos trabalhadores de Serpa. Numa assembleia da associação dos trabalhadores rurais, em 1930, faz a sua primeira intervenção pública. No ano seguinte, junto aos Paços do Concelho de Serpa, cerca de 400 trabalhadores rurais manifestavam-se por pão e trabalho. À resposta de um funcionário que «trabalho não há para ninguém», Francisco Miguel subiu para cima de um banco da praça e falou sobre a situação dos camponeses e da ausência de soluções por parte das autoridades. A GNR tentou prendê-lo mas, protegido pela multidão, conseguiu escapar.
Conhecido da polícia, não lhe restava outra opção senão fugir. Ficar significaria a prisão. É em Espanha que encontra refúgio e trabalho como sapateiro em Rosal de la Frontera. Ali conheceu exilados portugueses e oposicionistas espanhóis, sobretudo ligados ao Partido Comunista de Espanha, fundamentais para a sua formação política e ideológica.
Passado menos de um ano, regressa a Portugal, fixando-se em Lisboa, onde arranja emprego. Pouco depois, fez-se sócio do Sindicato dos Sapateiros.
A entrada para o Partido e as primeiras prisões
O ano de 1932 marca a entrada de Francisco Miguel para o Partido. Ao integrar o Comité Local de Lisboa, travou conhecimento com diversos militantes e dirigentes comunistas. Um, particularmente, marca-o profundamente: Manuel Rodrigues da Silva. Foi em Lisboa que começou a controlar algumas células, com reuniões realizadas, como era frequente na época, em plena rua – em locais pouco frequentados e zonas periféricas.
No início de 1935, foi enviado pelo Partido para Moscovo, com o objectivo de estudar na Escola Leninista. Ali conheceu dirigentes do PCP como Bento Gonçalves, Álvaro Cunhal e José Gregório, com quem aproveitou para enriquecer a sua formação teórica.
Dois anos depois, regressou a Portugal para mergulhar na clandestinidade. Responsável pelo Comité Local de Lisboa, acabaria por ser preso no ano seguinte. Barbaramente espancado, não falou. Depois da primeira prisão, a primeira fuga. Em 19 de Março de1939, fugiu do forte de Caxias.
De volta ao trabalho do Partido, foi chamado ao Comité Central e, pouco depois, ao Secretariado. É-lhe confiada a tarefa de reactivar a publicação do Avante!, há muito sem sair. Mas a casa onde se encontrava a tipografia, em Algés, foi assaltada e Francisco Miguel regressou à prisão. Julgado e condenado, foi deportado para o Tarrafal em Junho de 1940. Seis anos depois, regressou ao País ao abrigo de uma amnistia decretada em 1945. Seria a única vez que lhe abriram as portas do cárcere…
Um infatigável combatente
Após o IV Congresso do Partido, realizado em Agosto de 1945, em que foi eleito para o Comité Central, Francisco Miguel, que havia retomado a sua profissão, regressou à clandestinidade. Juntamente com Pires Jorge, foi incumbido da tarefa de dirigir a actividade do Partido no Alentejo.
Mas seria novamente detido, em Évora, quando procedia à transferência para o Algarve da casa de um funcionário do Partido que havia sido preso. Encarcerado no Aljube, foi sujeito, durante quatro semanas, em três períodos intercalados, à tortura da estátua. Julgado e condenado naquele que ficou conhecido como o «processo dos 108», foi o único preso a quem não foi permitida fiança.
Transferido para Peniche, só pensava em escapar. A 3 de Novembro de 1950, tentou evadir-se juntamente com Jaime Serra. Mas acaba por ter menos sorte que o camarada e foi novamente capturado. O Tarrafal seria o destino seguinte.
Permaneceu no Campo da Morte Lenta entre 1951 e 1954. Decidido o encerramento do campo, por pressões internacionais, os presos foram todos transferidos para prisões no continente. Todos menos Francisco Miguel, que passou um mês sozinho no campo e com a saúde muito debilitada.
O facto de a pena a que havia sido condenado ter já expirado, veio do Tarrafal para Caxias e, depois, para o Porto. Nos dois anos que ali passou, mais de oito meses passou-os na mais rigorosa incomunicabilidade.
Em Agosto de 1958, foi transferido para Peniche. Daqui evadiu-se a 3 de Janeiro de 1960, juntamente com Álvaro Cunhal e outros camaradas. Mas a sua permanência em liberdade seria de curta duração. Em Julho foi novamente preso, desta vez em Elvas, quando se preparava para passar a fronteira.
A última fuga e a luta que continua
Detido em Caxias, voltou a escapar, em Dezembro de 1961, com sete outros militantes comunistas, na célebre fuga no carro blindado de Salazar. Reintegrado na actividade do Partido, esteve presente no VI Congresso do PCP, em 1965, onde foi mais uma vez eleito para o Comité Central.
No início dos anos 70, integrou a Acção Revolucionária Armada (ARA), tendo participado no planeamento e execução de operações de sabotagem do aparelho militar colonial e de propaganda do fascismo.
Com o 25 de Abril, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte, em 1975, e à Assembleia da República, entre 1976 e 1985. Morreu a 21 de Maio de 1988. Tinha 81 anos, 21 dos quais passados na prisão.